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Renan Santana faz do corte de cabelo uma experiência de vida

Há 18 anos na área, o profissional de Mauá conquista mercado por atendimento a crianças neurodivergentes

Fábio Júnior
Especial para o Diário
29/06/2025 | 09:06
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FOTO: Arquivo Pessoal Diário do Grande ABC - Notícias e informações do Grande ABC: Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra width=


No auge dos seus 30 anos e natural de Mauá, Renan Santana nasceu em família formada por barbeiros, atuando na área por cerca de 18 anos. Mas, nos últimos tempos, percebeu que seu trabalho poderia transformar vidas a partir de um simples corte de cabelo. Atualmente, o seu principal foco está no atendimento neurodivergente, principalmente em crianças com autismo, lidando com traumas causados por experiências negativas. Mas de forma cuidadosa e sabendo conciliar paciência com sensibilidade, ele tem criado uma experiência confortável e inclusiva para os pequenos. 

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“Saber que eu poderia mudar a realidade de algumas famílias com o meu trabalho fez eu me especializar no atendimento”, diz Renan, que crê na importância de respeitar os limites sensoriais de cada criança.

Atualmente na Fraterno’s Barbearia, localizada no Shopping Nova Estação, o famoso Tio Renan é sucesso nas redes sociais. Ele acumula cerca de 380 mil seguidores no Instagram, e explica que a prática começou de forma natural, sem qualquer planejamento. “Na verdade não foi uma ideia. Eu não parei para pensar em cortar cabelo de criança (neurodivergente). Só chegou (cliente) na minha barbearia e eu comecei a atender”, relembra. 

Em relação ao valor, Renan afirma que o corte em crianças autistas custa R$ 70. A partir de duas horas de trabalho realizado, o preço sobe para R$ 100 e, caso ultrapasse três horas, será pago R$ 150. O barbeiro também trabalha com pessoas não neurodivergentes, com o corte chegando a R$ 40. Ele possui lista de espera com quase 2.000 cadastros, e afirma que, mesmo que as crianças gostem do estilo do corte, geralmente a escolha vem dá mãe. 

A manicure Keila Vitória, 26, moradora do Jardim Élida, em Mauá, é mãe do pequeno Christopher da Silva, 4 anos, diagnosticado com autismo. Antes de conhecer o barbeiro Renan, ela enfrentava situações delicadas nos momentos de cortar o cabelo do filho. “Era bem difícil. Ele batia na gente, não queria entrar no salão. Quando entrava, era segurando, ficava roxo de tanto chorar, machucava a gente, machucava o barbeiro”, relembra Keila. Atualmente, ela revela sentir alívio e gratidão ao ver o filho ser atendido com cuidado e respeito.

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A técnica de enfermagem Gabriela Kananda, 29, moradora de Itaquera, é mãe do Lucas Samuel Silva Melo, 4, e destaca que o filho sempre apresentou sensibilidade ao toque. Com Renan, porém, o menino estabeleceu um vínculo de confiança. “O Renan parece um anjo enviado por Deus. É a primeira pessoa, fora a minha mãe, que eu confiei para encostar no cabelo do meu filho. Ele transmite segurança. Não faz por dinheiro, faz porque ama. E isso muda tudo”, declarou.

Sem relaxar, Renan tem buscado aprimorar seu conhecimento para oferecer o melhor atendimento às crianças atípicas e pretende criar uma barbearia própria para esse tipo de trabalho.

Com atendimento adaptado, corte de cabelo durou mais de três horas

Renan Santana já enfrentou situações em que o corte de cabelo exigiu mais do que técnica: demandou paciência, empatia e respeito. O trabalho mais longo durou três horas e meia, dividido em duas sessões. Tudo para garantir que a criança se sentisse segura.

No atendimento, ele não impõe ritmo: segue o tempo dos pequenos. “Quem ordena os atendimentos são as próprias crianças”, afirma.

O espaço é moldado para o conforto sensorial: se o corte será feito com máquina ou tesoura, dentro da barbearia ou em outro ambiente, tudo depende das reações e limites da criança. Renan transforma o espaço em brincadeira. A máquina vira carrinho, a tesoura se torna varinha mágica. “A ludicidade, a brincadeira, acaba trazendo uma diversão para aquele momento”, diz ele, que também utiliza brinquedos como reforçadores positivos. Tudo pensado para tornar o processo mais leve, mesmo quando realizado em etapas.

O barbeiro aprendeu que cada atendimento é único e exige preparo emocional. Antes mesmo de iniciar o corte, ele dialoga com os responsáveis, para entender os estímulos que podem causar desconforto. “É um processo. Nem sempre o cabelo será cortado no primeiro dia. O importante é respeitar o tempo da criança”, explica.

A abordagem não invasiva é sua prioridade. Renan não permite que a criança seja segurada à força e orienta os pais sobre a importância do vínculo e da paciência durante todo o procedimento. Para ele, o mais importante é garantir o acolhimento e tornar aquele momento seguro para todos.




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