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Às margens da Billings: moradores exaltam conexão com a natureza

27/03/2025 | 00:10
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Celso Luiz/DGABC
Celso Luiz/DGABC Diário do Grande ABC - Notícias e informações do Grande ABC: Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra


 Quem vive hoje às margens da centenária Represa Billings prioriza o estilo de vida rural, com mais conexão com a natureza. Se inicialmente a ocupação nas áreas de proteção ambiental ocorreu devido à crise habitacional, atualmente os moradores que residem no entorno do reservatório permanecem por conta do estilo de vida mais sossegado.

A urbanização começou a ser registrada a partir da década de 1940. Porém, foi entre os anos de 1970 e 1980 que as ocupações tiveram a maior expansão nos municípios margeados pelo reservatório, devido à necessidade de moradia por populações mais vulneráveis, que buscavam terrenos mais acessíveis à medida que ocorria a valorização das áreas centrais.

Segundo estimativa da bióloga e pesquisadora da Billings, Marta Marcondes, cerca de 1,5 milhão de pessoas vivem atualmente nas margens da represa, sendo a Capital o município com maior número de ocupações. A represa é uma das principais fontes de abastecimento de água da Região Metropolitana de São Paulo e também ajuda a combater enchentes. Além de São Paulo, o reservatório abrange cinco dos sete municípios do Grande ABC: Santo André, São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

Em 2009, foi aprovada a Lei Específica da Billings, que definiu novas diretrizes e parâmetros de ocupação das Áreas de Proteção e Recuperação dos Mananciais da Bacia Hidrográfica do Reservatório. Apesar da normativa, a população que já residia no local permaneceu e desenvolveu um estilo de vida voltado às possibilidades que o reservatório tem a oferecer, como esporte, lazer e renda.

O casal Anunciada Maria de Lima Trevejo, 61 anos, e Antônio Sérgio Trevejo, 63, se mudou em 1989 para o Pós-Balsa, no distrito de Riacho Grande, em São Bernardo. Ambos vieram com as famílias de outros estados para Diadema em busca de uma vida melhor. Ela, do Piauí, e ele, do Paraná. Os dois vivem há mais de 30 anos em uma chácara na Estrada do Mandacaru, no bairro Taquacetuba, a menos de 50 metros da represa.

O lazer do casal, de familiares e dos amigos, está atrelado ao reservatório. Nos dias quentes, eles não deixam de dar um mergulho (mesmo que a água não esteja própria para banho). Aniversários e outras celebrações são realizadas em volta de fogueira no quintal de casa, que possui vista para a Billings. A pesca recreativa também é outra atividade rotineira do casal.

“Nós somos do Interior, até tentamos viver na cidade grande, mas não tem como. Aqui temos paz, silêncio e contato com a natureza. Infelizmente, o reservatório não é como antes, o nível é bem mais baixo, possui muita alga que deixa um lodo verde e, dependendo da época, um cheiro forte”, relatou o aposentado Antônio Sérgio Trevejo.

Sua esposa, Anunciada Maria, contou que quando se mudaram para o bairro, na década de 1980, outras três famílias viviam no local. Hoje, são mais de 35 residências localizadas às margens da represa. “Sabemos que, infelizmente, a ocupação provoca o desmatamento e outros danos ambientais, mas além da economia para alguns, quem vive aqui continua pelo contato com a natureza e pela boa qualidade do ar”, revelou a moradora, que produz e vende artesanatos na região.

Foi o amor pelos animais que levou Yohana Lanna Mesquita Thomé Toledo, 35, foi viver no bairro Capivari, no Pós-Balsa, em 2009. Com 33 cachorros resgatados da rua pela sua mãe, Antônia Cavalcante Mesquita, 60, morar em uma chácara foi a melhor solução. O respeito pela natureza fez com que Yohana permanecesse até hoje na região – agora ela vive com o marido, Carlos Henrique Santos Thomé Toledo, 35 e a filha, Eduarda Mesquita Thomé de Souza, 19.

"O clima próximo à represa é diferente, mais úmido, mas é muito gostoso. Antes consumia os peixes da Billings. Esse hábito foi alterado por conta da qualidade da água. Ainda aproveitamos a represa para os momentos de lazer nos dias quentes”, pontuou Yohana. 

RENDA

O pescador João Neto Lopes do Vale, 50, é recém-morador da região, ele saiu do bairro Alvarenga para o Taquacetuba em 2019. A mudança ocorreu por dois motivos: ficar próximo do seu trabalho e também pelo estilo de vida mais alinhado à natureza. 

“Trabalhar com pescaria é incerto, tem dias que conseguimos pescar de 10 a 15 kg, enquanto em alguns períodos saímos com a rede completamente vazia. Faz parte da área, mas, infelizmente, tem também a poluição e outros fatores que impactam na sobrevivência dos peixes na represa. Tem muito lixo humano, então os moradores fazem a limpeza do entorno para preservar a área. Temos que fazer a nossa parte”, explicou o pescador. Entre as espécies pescadas por Lopes, estão carpa, traíra, carpa e tilápia.

(Da esquerda para direita: João Neto Lopes do Vale, Anunciada Maria de Lima Trevejo e Antônio Sérgio Trevejo)

DESAFIOS

Apesar dos benefícios à saúde, os ribeirinhos de São Bernardo apontam diversos problemas estruturais no local, como falta de pavimentação na principal estrada, problemas com transporte terrestre e aquático, baixa tensão na rede elétrica e o principal deles: ausência de saneamento básico. 

Alguns moradores utilizam fossa para tratar os resíduos e o poço para o abastecimento hídrico. “Outras pessoas despejam diretamente na represa, não se preocupam com o impacto das suas ações e a questão ambiental. Por isso, e também pelo descarte irregular de resíduos, a Billings não é a mesma”, lamentou Yohana. 

“Nós não vamos sair daqui, é o nosso lar, estamos acostumados com esse estilo de vida, então é preciso investir em infraestrutura urbana para melhorar a qualidade de vida da população”, pediu o pescador.




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