Anderson Barbosa, do Jardim Paranavaí, faz parte do elenco brasileiro que fez história nos Jogos Mundias
A cena é improvável: perdendo por 26 pontos para o favorito Estados Unidos no segundo quarto, o time brasileiro universitário de basquete renasce em quadra, empata e conquista uma virada épica na prorrogação, no último sábado (26). Placar final: 94 a 88. Ouro no peito e uma história gravada nos Jogos Mundiais Universitários de Rhine-Ruhr 2025, na Alemanha. Entre os protagonistas da façanha, com nove rebotes, está um nome celebrado por quem o viu crescer: Anderson Barbosa Miranda, 25 anos, criado no Jardim Paranavaí, em Mauá.
O ala, conhecido na modalidade como Anderson Negão, não surgiu de centros de excelência ou clubes milionários. Sua base foi a quadra da Amab (Associação Mauaense dos Amigos do Basquete), uma escolinha gratuita da cidade. Aos 10 anos, ele chegou ao projeto dividido entre o futebol e o basquete. Em um episódio emblemático, chegou atrasado ao treino de basquete após marcar oito gols numa partida de futebol – talento sobrava nas duas modalidades, mas a bola laranja falou mais alto.
Foi a técnica Ivonete Macedo quem primeiro apostou no garoto. Ela ainda se lembra do impacto dos primeiros treinos. “A gente sabia que ele era diferente desde o primeiro treino. Ele tinha um brilho no olhar e uma força física impressionante para a idade. Mas, mais do que isso, ele ouvia, aprendia rápido e respeitava o processo”, diz a treinadora.
Durante sete anos, Anderson vestiu a camisa dos Girafinhas, como são chamados os atletas da Amab. Passou por todas as categorias – do sub-10 ao sub-15 – e fez história ao ser o primeiro da escolinha a integrar a Seleção Paulista, em 2016. O passo seguinte foi o basquete profissional: defendeu Paulistano, onde disputou a NBB (Novo Basquete Brasil), Fortaleza Basquete Cearense e, atualmente, joga pelo Mogi Basquete. Em 2023, foi um dos destaques da temporada e campeão do Global Jam, no Canadá, com a Seleção sub-23.
Hoje pai e referência nacional no esporte, Anderson carrega uma relação de pertencimento com as raízes. “Em Mauá, na Amab, eu aprendi os conceitos básicos da vida e descobri o amor pelo basquete. Eles ajudaram muito a minha família – sou eternamente grato por tudo o que fizeram por mim. São memórias que vou levar para sempre”, diz o jogador. “Acreditaram em mim quando ninguém via, enxergou um talento onde talvez nem eu visse. Me tirou das ruas, de um caminho errado que eu poderia ter seguido. Tenho orgulho de dizer, em qualquer lugar do mundo, que fui um Girafinha no Grande ABC”, completa.
Mas, para além dos títulos e convocações, é o impacto de sua trajetória que move quem o acompanhou desde cedo. “O Anderson representa todos os meninos e meninas da periferia que sonham, que batalham e que, com apoio e oportunidade, podem chegar onde quiserem. Ele é um símbolo do que a gente acredita: o esporte como ferramenta de transformação”, afirma Ivonete, emocionada.
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