Poeta nascido no paradisíaco e pobre Vale do Jequitinhonha reedita em coletânea o que de melhor criou em versos nos últimos 27 anos
Mineiro de Coronel Murta, Joaquim Celso Freire entrega, já na epígrafe, a principal fonte de inspiração para Caminhos e Cercanias (154 páginas, Inmensa Editorial, R$ 90). O mais recente livro de poesias do professor da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) inicia com uma frase tomada da obra-prima de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas: “O sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar”.
A poeira, a aridez, o sol, o calor e o rio que dá nome ao Vale do Jequitinhonha, onde fica a cidadezinha de cerca de 8.200 moradores em que Freire nasceu, são personagens centrais das poesias que recheiam a obra. Os pescadores, tropeiros, canoeiros, mineradores, lavadeiras e romeiros com quem conviveu na infância são onipresentes nos versos.
O poema ‘Jequitinhonha’ é a pura saudade dos verdes anos do poeta: “Jequitinhonha, tuas águas/correm nas minhas veias!/Tu és artéria, tu és sangue moço.../Manténs vivo esse chão./No teu dorso te garanto,/ainda hei de canoar./Reserva-me um diamante,/prometo-te, vou buscar! (...)/Jequitinhonha, quero curumatá!/Mas não sei quando vou pescar.../Dê lembranças ao meu Itaporé,/quando passares por lá...”.
Mas há também espaço para referências menos belas que a deslumbrante paisagem do sertão das Minas Gerais.
Quem conhece a poesia de Freire, que migrou a São Paulo em 1974, sabe que o autor não abre mão da crítica social, também inspirada na outra face de sua região natal, cuja maior parte das 59 cidades possui os menores índices de desenvolvimento do Estado, o que lhe valeu a desonrosa alcunha de Vale da Pobreza.
É o que se lê em ‘Caterva Peteca’: “a caterva petequeia/a nação capturada!/a pátria, na lama, pateia/seus símbolos, aviltada.../o tempo turva, na curva, alheia/a morte assovia banalizada”.
A rigor, Caminhos e Cercanias não é um novo livro. Com exceção do primeiro, os outros 96 poemas da coletânea não são originais. Eles foram selecionados de obras anteriores do autor – Fazendo Poeira, Versos Avessos, O Rio das Minhas Manhãs, Coisas e Não Coisas e Foice na Carne –, publicadas entre 1997 e 2024.
PROJETO
Caminhos e Cercanias integra a coleção Infame Ruído, composta por 25 livros de autores brasileiros e africanos que escrevem poesia contemporânea. Vinte e cinco por cento da tiragem de cada obra são doados a 25 escolas públicas de 25 cidades com menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humanos) localizadas nos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, ambos em Minas Gerais.
LANÇAMENTO
Joaquim Celso Freire promoverá o lançamento de Caminhos e Cercanias no Grande ABC no sábado que vem (23), das 10h30 às 13h, na Livraria Alpharrabio, que fica na Rua Dr. Eduardo Monteiro, número 151, no Jardim Bela Vista, em Santo André. Outras informações sobre o evento podem ser obtidas por meio do telefone (11) 4438-4358.
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