São 41 profissionais para 308 unidades; casos de bullying e abuso de drogas registraram alta
Para mediar os conflitos e acolher psicologicamente os estudantes, o governo de São Paulo destina apenas 41 psicólogos para 308 unidades de ensino no Grande ABC – média de um profissional paraada sete escolas. A rede estadual da região possui 206.420 alunos matriculados, ou seja, demanda de 5.034 jovens por terapeuta.
Lançado em 2019, após ataque à Escola Raul Brasil, em Suzano, o Programa Conviva tem o objetivo de reduzir casos de violência e melhorar o ambiente escolar. A iniciativa conta com 689 psicólogos para atender mais de 5.000 escolas na rede. A Seduc (Secretaria da Educação do Estado) promete ampliar o efetivo para 1.000 profissionais até o fim do ano – a Pasta não especificou quantos serão destinados para o Grande ABC.
O psicanalista e diretor estadual da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), Aldo Josias dos Santos, ressaltou a falta de profissionais e a necessidade de ampliação do efetivo. “É inviável esse volume de atendimento para um único psicólogo. Desde que o programa foi implementado, o que efetivamente influenciou na realidade das escolas?”, questionou Santos.
Os casos de bullying e de consumo de álcool, cigarro e drogas ilícitas em escolas da rede estadual de São Paulo cresceram nos últimos anos, segundo relatório do TCE (Tribunal de Contas do Estado), com base nas notificações registradas em aplicativo ligado ao programa.
As ocorrências de intimidação saltaram de 4.739 em 2022 para 9.270 em 2024 e os casos de uso de álcool e tabaco foram de 4.877 para 9.525 – ambos contabilizaram alta de 95% no período. Já os registros do uso de drogas ilícitas aumentaram 123%, com 4.655 notificações no ano passado ante 2.087 em 2022.
O relatório do TCE apontou ainda que o programa Conviva São Paulo tem menos profissionais do que o necessário para atender a demanda, e que o governo enfrenta dificuldades para contratar psicólogos para a rede estadual.
Estudantes da E.E.(Escola Estadual) do Américo Brasiliense, em Santo André, ouvidos pelo Diário, disseram que nunca participaram de nenhum atendimento com psicólogo, seja individual ou em grupo, mas ressaltaram a necessidade de acompanhamento.
“É muito importante ter esse suporte psicológico na escola, principalmente para quem não tem condições de recorrer a esse serviço. Tem muitos jovens que não sabem que precisam de ajuda”, disse a estudante do 9° ano, Lin Pessoa, 15 anos.
O aluno do terceiro ano do ensino médio, Ulrick de Brito Varejano, 18, ressaltou o papel do profissional para o cuidado com a saúde mental. “Ninguém consegue superar as dificuldades sozinho, um psicólogo ajuda a controlar as emoções e no ambiente escolar é essencial para lidar com toda pressão”, pontuou.
Mesmo com a possibilidade de expansão do efetivo de profissionais, o diretor da Apeoesp, Aldo Josias dos Santos, reforçou a necessidade de melhoria em outros setores da educação. “O Estado precisa respeitar os estudantes e os professores. Temos um quadro de docentes com adoecimento mental devido a <CF50>‘plataformização’</CF> e a exigência extrema de resultados”, denunciou Santos.
O PROGRAMA
A Seduc disse que o foco não é o atendimento clínico individual, mas sim iniciativas preventivas que fortaleçam a convivência escolar. Cada profissional cumpre 30 horas semanais.
“Além disso, a Pasta investe na formação de professores para o acolhimento das demandas socioemocionais dos alunos e na promoção da participação familiar na comunidade escolar. Em casos que extrapolam o âmbito pedagógico, a secretaria atua em parceria com conselhos tutelares, serviços de saúde e segurança pública”, afirmou a Seduc.
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