Litoral paulista registrou na última semana a morte de 739 animais; causas naturais, pesca e aquecimento dos mares são possíveis causas
No Parque Sabina, em Santo André, os pinguins são protagonistas. Quem visita o espaço logo se encanta com os movimentos ágeis, os mergulhos graciosos e o carisma dos animais que vivem ali sob os cuidados dos especialistas. Atualmente, o pinguinário abriga 23 pinguins-de-magalhães (Spheniscus magellanicus), uma das espécies mais comuns do Hemisfério Sul.
Conhecer as aves marinhas de perto pode ajudar a entender um fenômeno que se repete todos os anos no Brasil. Originários da Patagônia argentina e chilena, esses animais realizam uma longa jornada marítima entre os meses de abril e setembro em busca de alimento. Seguindo cardumes, lulas e crustáceos que se deslocam para águas mais quentes, os pinguins acabam alcançando o litoral brasileiro. A migração é natural, mas neste ano o número de mortes acendeu alerta entre pesquisadores e ambientalistas.
Segundo dados do Ipec (Instituto de Pesquisas Cananéia), 739 pinguins-de-magalhães foram encontrados mortos em Cananéia, Iguape e Ilha Comprida, no litoral paulista. O número corresponde às ocorrências registradas somente na última semana, em fenômeno denominado de “encalhe em massa”, devido ao alto volume de pinguins achados em avançado estado de decomposição nas areias das praias. O Ipec informou que os encalhes seguem ocorrendo e os primeiros casos foram registrados no início de julho.
De acordo com especialistas do Sabina, as causas para morte em massa dos pinguins são diversas, como cansaço após nadar longas distâncias, podendo atingir até 25 km por hora, a fome, desidratação e hipotermia, que pode impedir os animais de completarem a travessia marítima.
Para o biólogo e educador Rodrigo Franco Soares, do Parque Sabina, o aquecimento global também tem influenciado diretamente na rota migratória da espécie. “Se a gente considerar o que estamos observando nas praias ultimamente, como baleias e tubarões-baleia, há indícios de mudanças nas correntes marinhas. Por conta disso, os pinguins precisam nadar distâncias cada vez maiores”, afirma Soares.
Essa alteração no comportamento migratório força a espécie a ir além do habitual, aumentando o desgaste físico e reduzindo as chances de sobrevivência, conforme explica o biólogo. Ao chegarem ao litoral, muitos já estão exaustos e frágeis demais para resistir.
Além das mudanças climáticas, há também a interferência humana no ecossistema marinho. A veterinária e responsável técnica pelo zoológico do parque andreense, Andressa Ferraiollo, aborda a pesca de arrasto como uma prática que impacta diretamente a migração e a saúde da espécie.
O SABINA
O Parque Sabina Escola Parque do Conhecimento possui um pinguinário, inaugurado em 2009. A maior parte dos pinguins que vivem ali foram resgatados após encalhes e, por motivos de saúde, não podem retornar para a natureza. Hoje, os animais vivem sob cuidados dos veterinários e biólogos do parque e em um ambiente especialmente adaptado às suas necessidades.
Além do pinguinário, o espaço conta com planetário, aquários, serpentários, simuladores e atrações interativas voltadas à ciência e ao meio ambiente. O espaço funciona de terça-feira a domingo, das 9h às 17h30 e é preciso adquirir ingresso.
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