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Aos 35 anos, Craisa planeja salto para virar uma gigante do varejo

Investimento de R$ 259 milhões pelo grupo Fictor vai permitir implementação de sistema de vendas on-line, com entrega na manhã seguinte

Nilton Valentim Evaldo Novelini
19/06/2025 | 08:55
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FOTO: Denis Maciel/DGABC


Fundada em 19 de junho de 1990, a Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) completa 35 anos, hoje, às vésperas de dar salto estratégico capaz de equipará-la a uma das gigantes brasileiras do setor de varejo hortifruti. Investimento de R$ 259 milhões a ser feito pelo grupo Fictor vai incluir a implementação das vendas on-line na unidade, localizada no bairro Santa Teresinha.

Restaurantes, padarias, bares e lanchonetes compram mais em atacarejos, no Assaí, nos mercadões da vida, nos sacolões. Mas imagine que, em futuro breve, poderão comprar aqui pelo e-commerce, 30% a 40% mais barato, e receber no outro dia na porta do estabelecimento. Será fantástico”, diz o superintendente da Craisa, Reinaldo Messias da Silva, em entrevista ao Diário.

As vendas on-line serão viabilizadas pelo novo parceiro do entreposto, o grupo Fictor, que em 14 de maio foi apresentado como concessionário dos espaços hoje ociosos da Craisa – que tem 140 mil metros quadrados no total –, onde pretende implantar centro comercial com lojas, serviços e conveniência, mercado e boulevard com bares e restaurantes. O contrato é de 35 anos.

Batizado de Complexo Nova Ceasa, o projeto deve gerar 32 mil empregos diretos e indiretos e atender a um público potencial de 5 milhões de consumidores do Grande ABC, da Zona Leste de São Paulo e da Baixada Santista. O prazo para que a estrutura esteja funcionando 100%, inclusive oe-commerce,é de 18 meses.

Além de ampliar a capacidade operacional do empreendimento – o número de boxes fixos da Ceasa (Central de Abastecimento) passará de 63 para 325 e o de pedras (expositores sem espaço físico fechado), de 81 a 258 –, o projeto vai aumentar as receitas da Craisa, já que cada vendedor está obrigado a repassar à central 3,5% do faturamento bruto.

A Craisa fechou 2024 com a movimentação de R$ 152 milhões. Messias estima que, quando o Complexo Nova Ceasa estiver maturado, o que deve ocorrer dentro de um ano e meio a partir da entrega, o rendimento da Craisa vai atingir R$ 182,4 milhões anuais. “Acredito que vamos aumentar a receita em, no mínimo, 20%”, declara Silva.

Atualmente, a Craisa comercializa em torno de 144 mil toneladas de hortifruti por ano – 12 mil mensalmente. Do total, cerca de 50% correspondem a frutas, 23% a legumes, 7% a verduras e o restante a produtos diversos, como ovos e peixes ornamentais. “Diante do crescimento apresentado nos últimos exercícios, na prospecção de crescimento, espera-se a movimentação de cerca de 180 mil toneladas em 2025”, prevê o superintendente.

Central opera no azul após rombo de R$ 74 mi

O superintendente Reinaldo Messias da Silva exibe aos repórteres do Diário, com orgulho indisfarçável, dois balanços fiscais da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André). O primeiro, datado de 31 de dezembro de 2016, expõe prejuízo acumulado de R$ 74 milhões. O último, dos mesmos dia e mês de 2024, mostra R$ 3,2 milhões em caixa.

Nomeado para o cargo em janeiro de 2017 pelo então prefeito Paulo Serra (PSDB), Silva, que é o mais longevo dos superintendentes da Craisa desde a fundação da companhia, há 35 anos, foi o responsável pela revolução financeira. “A gestão não é só minha, é de todos os colaboradores”, divide o comandante, cujo time é formado por 658 pessoas.

“Senti na hora que cheguei que a companhia nunca havia sido pensada a longo prazo. Não estava sendo preparada para o futuro. Sabe aquela história de apagar incêndios?”, lembra Silva, cuja primeira medida foi encontrar caminhos para encaixar o custo no faturamento, sem perder a excelência na prestação do serviço.

O passo inicial foi renegociar os impostos devidos, de modo a recuperar as certidões necessárias para a realização de negócios destinados a reforçar o caixa da Craisa. “Dividimos em 120 meses e estamos pagando religiosamente em dia”, diz Silva. Na sequência, o superintendente deu início ao programa de licitações dos espaços disponíveis.

A receita da Craisa, até então, vinha praticamente das secretarias municipais de Santo André, que reembolsavam a companhia pelos serviços que ela prestava, como a alimentação dos servidores e dos estudantes da rede municipal, por exemplo. “Fomos buscar dinheiro fora, não só público”, ilustra o superintendente.

Só de outorga, o concessionário que arrematou o direito de explorar a venda de pastéis no complexo Santa Teresinha pagou R$ 700 mil. O aluguel do metro quadrado das pedras disponíveis no mercado de hortifrutigranjeiros foi adequado ao preço do mercado, passando de R$ 8 para R$ 50.

Silva confessa estar realizado por sanear as contas da Craisa. “É motivo de orgulho. Porque o histórico não era bom, inclusive a Craisa foi alvo de CPI na Câmara”, cita. Em 2014, na gestão do prefeito Carlos Grana (PT), a companhia foi investigada por Comissão Parlamentar de Inquérito, que concluiu que o modelo de administração da empresa, considerado arcaico e deficitário, era responsável pelo alto endividamento, na época em R$ 20 milhões.




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