Economia Titulo Interrupção no ciclo de alta de juros
Copom eleva Selic a 15% e setores da economia contestam

Comitê do Banco Central anunciou alta de 0,25 ponto percentual; centrais sindicais e associações da indústria e comércio reclamam

Das agências
19/06/2025 | 09:11
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FOTO: Marcelo Camargo/Agência Brasil


O Copom (Comitê de Política Monetária) anunciou ontem ter de antecipar uma interrupção no ciclo de alta de juros para as próximas reuniões, após elevar a Selic em 0,25 ponto porcentual, para 15% ao ano. Apesar disso, já adiantou que não hesitará em mudar de ideia e continuar com o aperto monetário caso avalie, no encontro de julho, que será a decisão mais adequada.

A decisão sobre a pausa, de acordo com o comunicado divulgado, se dará para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados. Assim, conforme a cúpula do BC, será possível avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta.

“O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, ponderou.

A decisão ficou acima da mediana das expectativas do mercado financeiro pela primeira vez desde outubro de 2021, já que a maior parte dos analistas previa a manutenção da taxa.

Segundo o BC, a escolha por mais uma alta é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. “Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, trouxe o documento.

O Copom manteve a sua projeção para a inflação acumulada em 12 meses até o fim de 2026, horizonte relevante da política monetária. A estimativa seguiu em 3,6% no cenário de referência, distanciando-se do teto da meta, de 4,50%.

QUESTIONAMENTOS

Em nota, o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Ricardo Alban, classificou de “injustificável” a decisão do Copom. Segundo ele, os juros altos vão sufocar a economia. “Não lidávamos com um patamar tão alto [DA SELIC]desde 2006. A irracionalidade dos juros e da carga tributária já está sufocando a capacidade dos setores produtivos, que já lidam com um cenário conturbado e possibilidade de aumento de juros e custo de captação de crédito. É um contrassenso o Banco Central se manifestar contra o aumento do IOF enquanto decide aumentar a taxa de juros. Aonde se quer chegar?”, questionou Alban.

Para a Apas (Associação Paulista de Supermercados), o Banco Central poderia ter tomado outra decisão. “Havia espaço para estabilidade e até mesmo para queda da taxa. Não há justificativas para uma taxa de juros neste patamar”, ressaltou o economista-chefe da entidade, Felipe Queiroz, em comunicado. 

A ACSP (Associação Comercial de São Paulo) informou que a decisão surpreendeu as expectativas de mercado. No entanto, ressaltou que o núcleo da inflação, que exclui os preços mais voláteis, continua acima do teto da meta anual, de 4,5% em 12 meses.

“Apesar da desaceleração gradual da atividade econômica interna e da valorização do Real, que tendem a diminuir a pressão sobre os preços, a inflação subjacente, que pende a sinalizar a tendência do aumento de preços, ao excluir os mais voláteis, se mantém muito acima da meta anual, num contexto de expansão fiscal e expectativas inflacionárias ainda desancoradas, justificando uma política monetária mais contracionista”, explicou o economista Ulisses Ruiz de Gamboa, da ACSP.


CENTRAIS SINDICAIS

A decisão do BC também foi mal recebida pelas centrais sindicais. Para a CUT (Central Única dos Trabalhadores), o BC dificulta a vida das famílias com a nova elevação da Selic e mantém o esquema que transfere recursos dos consumidores, das empresas e do Estado para o setor financeiro.

“Os juros altos desestimulam os investimentos e o consumo, cenário que impacta no mercado de trabalho. O Brasil estaria gerando muito mais vagas de emprego, de qualidade, com salários melhores, não fosse essa política monetária do Banco Central”, destacou a presidente da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) e vice-presidente da CUT, Juvandia Moreira.

Em nota, a Força Sindical, destacou que os juros altos são um “veneno” para matar a produção e o comércio. “Juros altos são um convite à especulação e proporcionam excelentes rendimentos ao setor bancário em detrimento da indústria e comércio. Os trabalhadores estão convencidos que ao permanecer a atual política de juros altos do Copom a tendência será de aprofundamento do desemprego e da pobreza”, criticou o presidente da entidade, Miguel Torres.




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