Pregão para venda da empresa histórica será aberto dia 20 de outubro
A Justiça de Santo André determinou o leilão de execução fiscal da Indústrias Reunidas São Jorge, proprietária do histórico Moinho São Jorge, em Santo André, para a quitação de dívidas de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). O pregão on-line será aberto em 20 de outubro, com lance inicial de R$ 276.976.811,33. O edital foi assinado pelo juiz Genilson Rodrigues Carreiro, da 1ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Santo André.
A primeira fase do leilão ficará aberta até as 12h do dia 23 de outubro. Caso não ocorram lances, será iniciada a segunda fase do pregão, com oferta mínima de R$ 166.186.086,80 e encerramento em 24 de novembro.
Segundo Antonio Hissao Sato Júnior, responsável pelo pregão, a empresa hoje deve cerca de R$120 milhões em IPTU para o município. Este valor está dividido em 40 processos e um deles, no valor de R$ 220 mil, serviu de base para o pedido de leilão. Para barrar a execução, os proprietários da empresa deverão providenciar a quitação do processo junto à Prefeitura.
De acordo com Sato, já existem quatro interessados em arrematar o imóvel, que tem 25 mil metros quadrados, cerca de 90 mil metros de área construída e está localizado na Avenida dos Estados, 1.171, bairro Santa Teresinha. São grupos ligados aos setores de logística e da construção civil. “Nossa expectativa é que ocorra o arremate, pois é um dos melhores imóveis de Santo André”, afirma Sato.
Além de abrigar uma das empresas mais tradicionais do Grande ABC, o espaço ainda fez história por causa dos eventos sociais e culturais ocorridos no chamado ‘Palácio de Mármore’, o salão de festas localizado do alto do prédio principal. “Eu me sinto lisonjeado com o reconhecimento profissional pela Prefeitura de Santo André confiar a nós o trabalho de fazer o leilão de um imóvel icônico para o Grande ABC. E, ao mesmo tempo, eu me sinto triste porque talvez uma parte da história vai ficar para trás com uma possível demolição do prédio”, afirma Sato.
O edital do leilão prevê o pagamento do lance vencedor com uma entrada de 25% e o restante parcelado em 30 meses. Entretanto, o juiz deixa claro no texto que as ofertas para quitação à vista terão prioridade.
Os responsáveis pelo Moi nho São Jorge não foram localizados.
Na última terça-feira o ecretário de Inovação e Tecnologia da Prefeitura de Santo André, Diego Cabral, se reuniu com Jorge Chamas, proprietário da empresa.
“O governo tem total interesse em que o Moinho São Jorge se recupere. O senhor Jorge Chamas falou sobre e intenção de realizar um plano de investimentos, mas pediu condições especiais para quitar o IPTU”, relatou.
HISTÓRIA
Entre o fim dos anos 1940 e 1950, houve um aumento na atividade moageira devido aos acordos comerciais dos Estados Unidos para exportar trigo excedente. O Moinho São Jorge foi construído nesse contexto para competir com empresas estrangeiras e se tornou um dos maiores moinhos do Brasil em capacidade de estocagem e moagem. O pedido teria sido feito pelo presidente Getúlio Vargas, que, quando empossado, conclamou empresários para que se dedicassem à moagem do trigo.
Em 1952, os Irmãos Chammas – João Chammas e Antônio Adib Chammas – e o engenheiro José Marun Atalla iniciaram a construção do Moinho São Jorge. O projeto arquitetônico buscou atender às necessidades de moagem de trigo, com seções para limpeza, moagem e mistura, além de ensacagem e despacho. O edifício foi construído com capacidade para 60 mil toneladas de trigo.
Foi nos anos 1970 que o Moinho São Jorge enfrentou dificuldades devido a um incêndio que danificou equipamentos importados de moagem. Após o falecimento de José Marun Atalla e Antonio Adib Chammas, naquela década, a empresa não implementou muitas mudanças tecnológicas e foi afetada pela obsolescência. Atualmente, o Moinho São Jorge enfrenta dificuldades financeiras e está sem produção.
MIL E UMA NOITES
O salão de festas denominado ‘Salão das Mil e Uma Noites’, mas conhecido como ‘Palácio de Mármore’, era utilizado para atividades sociais e políticas, mas foi fechado em 1978, após a morte de Antônio Adib Chammas, e reaberto apenas em 1999 e 2015 para eventos especiais. O hall era revestido em mármore carrara italiano rosa, arandelas e madeira nobre no piso, com capacidade para 1.200 pessoas, além de pinturas artísticas que contavam a história do trigo.
Instalado no último pavimento do edifício, o local foi utilizado para atividades políticas com visitas de presidentes, governadores, ministros e secretários de Estado.
Além delas, programavam-se festividades para integrantes do mundo das celebridades e autoridades internacionais, como o imperador da Etiópia, Hailé Selassié, e o pianista Ray Charles. Também era alugado para atividades de formatura, bailes e concursos.
Além deste espaço, havia ainda capela dedicada a São Jorge, que também foi inaugurada em 1959 e sediou várias atividades religiosas.
(colaborou Renan Soares)
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