A capela histórica de Rio Grande da Serra em 1976. Três anos depois, em 1979, foi derrubada parcialmente. Meu Deus, como compreender uma ação destas em pleno século XX?

Cf. Memória, 8-5-2025.

Um poste.

E o ar que respiramos

Texto: Antonio de Andrade

Ao observar a foto datada de 1976 da histórica capela de Rio Grande da Serra e publicada na coluna “Memória” de 8 de maio último, um detalhe despertou minha atenção. 

Bem na frente da capela um poste, ligeiramente inclinado, com uma placa e um artefato na parte superior. 

Tais elementos remetiam a uma imagem conservada na minha mente. Uma simples ampliação da foto foi o suficiente para revelar a sigla impressa, com destaque, na placa de identificação: “Susam”. 

Tratava-se da extinta “Superintendência de Saneamento Ambiental”, órgão da Secretaria da Saúde do Governo do Estado de São Paulo e que incorporou, a partir de 1971, a CICPAA (Comissão Intermunicipal de Controle da Poluição das Águas e do Ar), uma entidade pioneira na questão da preservação ambiental e criada pelos municípios do ABC em 1960.

O AVAL DA OMS

A Cicpaa foi a primeira, não só no Brasil, bem como em toda América Latina. Estava situada na Rua Justino Paixão, 125, no Centro de Santo André. 

Em 1965 a Cicpaa foi transferida para São Caetano, passando a contar com maior espaço, além de um moderno laboratório de análise de poluentes atmosféricos, doado pela prestigiosa OMS (Organização Mundial da Saúde). 

No mesmo ano, 45 pequenas estações de amostragem da qualidade do ar foram distribuídas por todo Grande ABC, dando início à coleta e identificação dos poluentes predominantes no ar respirado pelos moradores da região.  

Naquele momento nem a capital paulista contava com serviço de tal importância. Pois seria a mesma Cicpaa que, a partir de 1967, passou a avaliar e estudar a qualidade do ar da cidade de São Paulo.

E assim foi, até o momento em que o governo estadual criou, em abril de 1970, a Susam. A partir da criação do novo órgão os profissionais da Cicpaa passaram a avaliar a qualidade do ar em toda região metropolitana de São Paulo e Cubatão.

ESTRUTURA NOVA 

Em 1975 ocorreria uma nova alteração. A estrutura da Susam é absorvida pela recém criada Cetesb, uma empresa estatal denominada na época como “Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Ambiental e de Defesa do Meio Ambiente”. 

A placa e equipamentos, instalados em Rio Grande da Serra, motivo central deste despretensioso comentário, ostentava no longínquo ano de 1976 a antiga sigla Susam.  

A adaptação à nova estrutura demandou um alongado período, enquanto ocorria a substituição das antigas estações por modernos equipamentos eletrônicos. Todo esse palavreado tem embutido um outro propósito, o de explicar a importância da fotografia no contexto da preservação da memória social.

DOIS OLHARES.

DO FOTÓGRAFO.

E DO PROFESSOR.

Memória, é bom lembrar, é considerada a capacidade que o ser humano tem de conservar lembranças. É, portanto, um evento social que permite a preservação de ocorrências vivenciadas. 

A fotografia e os filmes possuem a capacidade de eternizar momentos expressivos ou mesmo de pretensa futilidade. Só com o passar do tempo é possível avaliar a importância do que foi registrado em um determinado momento. 

É o caso do singelo registro fotográfico motivo destas digressões. Justo crer que o autor da foto estava somente interessado em preservar uma imagem do expressivo patrimônio histórico de Rio Grande da Serra.   

O poste, a placa e demais equipamentos constituíam, em essência, elementos alheios às intenções do olhar singular do fotografo. Entretanto o detalhe inconveniente, e esteticamente indesejável, ocultava outras informações.  

Em especial para rememorar a oportunidade que tive em atuar profissionalmente, por quase três décadas, nas três mencionadas instituições. 

Inúmeras vezes escalei a frágil estrutura para recolher parâmetros que viessem a substanciar, cientificamente, a necessidade de uma batalha pela melhoria da qualidade de vida em nosso espaço de existência.

NOTA DA MEMÓRIA – Professor e sociólogo Antonio de Andrade, amigo querido, fez parte do eterno Gipem, o grupo que ousou pensar memória dando de ombros ao academicismo, à história oficial e acreditando na história oral, na boa conversa, na troca de ideias para se entender como as coisas acontecem e aconteceram.

Junto ao texto, Andrade enviou fotos e documentos. Mostraremos o máximo possível amanhã.

Crédito da foto 1 – Banco de Dados

EM TORNO DE UMA IMAGEM. Capela e poste intrometido extrapolam Rio Grande da Serra, percorrem o Grande ABC, expandem-se pela região metropolitana, vencem todo o Estado de São Paulo

DIÁRIO HÁ MEIO SÉCULO

Domingo, 1º de junho de 1975 – Edição 2761

TURISMO RELIGIOSO – A Promotur Passagens e Turismo Ltda, sob as bençãos de dom Jorge Marcos de Oliveira, bispo diocesano, promovia embarques de passageiros para as indulgências do Ano Santo em Roma.

SANTO ANDRÉ – Secretário Álvaro Nosé buscava em Curitiba, no Paraná, sugestões para um bulevar na cidade.

SÃO BERNARDO – Bairro Assunção iria ganhar um centro recreativo.

NOTA DA MEMÓRIA – Trata-se do atual Centro Recreativo Esportivo Especial Luiz Bonicio, na subida da Vila Marchi.

EM 2 DE JUNHO DE...

1905 – Do correspondente do Estadão na Estação Rio Grande (da Serra) – As festividades em louvor ao mártir São Sebastião e à Santa Cruz, nesta localidade, serão realizadas nos dias 24 e 25 de junho próximo (em 1905).

Foram nomeadas duas comissões organizadoras.

Festa de São Sebastião: Maria J. Moreira, Francisca M. Marques e Francisco Pandolfi.

Festa de Santa Cruz: João Martini, Felippe José e Rachel Guilherme da Silveira.

Estas festas serão realizadas pelo Conselho Deliberativo da Irmandade Santa Cruz, auxiliado pelas comissões nomeadas, visto não serem realizadas nos respectivos dias pelos festeiros sorteados.

Para realizar a festa de Santa Cruz resolveu o Conselho entregar à comissão 200 mil réis.

NOTA DA MEMÓRIA – Na Semana Rio Grande da Serra 2025 “Memória” estranhará que, em 1905, a festa de Santa Cruz não tivesse sido realizada na data anual correspondente, 3 de maio. Agora, a explicação.

1955 – Iniciava-se na Paróquia de Santo André uma semana eucarística diocesana preparatória ao 36º Congresso Eucarístico Internacional.

A semana era organizada pelo padre Primo Bernardi, sob presidência de dom Jorge Marcos de Oliveira.

2024 – “Memória” repercutia outra fala do encontro de memorialistas realizado no Salão Nobre do Diário, em 19 de abril, quando Octavio David Filho defendia o termo “abedecino” a ser empregado aos moradores do Grande ABC.  

HOJE

Festa nazionale della Repubblica Italiana. Comemora o referendo realizado em 2 de junho de 1946 e que marcou a proclamação da República italiana após a Segunda Guerra Mundial e a queda do fascismo.

MUNICÍPIOS BRASILEIROS

Aniversariam em 2 de junho: Guarantã do Norte (MT), Resende Costa (MG) e Tomazina (Paraná). 

Evangelho do Dia

“No mundo tereis aflições. Mas tende coragem! Eu venci o mundo”.

João 16,33b-d

Santos do dia 2 de junho: Marcelino e Pedro. Mártires. Perseguidos e mortos por volta do ano 304.

Ilustração: Pontificia commisione di archeologia sacra; Vatican News.