Os bairros operários de São Paulo, inspirando o registro dos bairros centenários do Grande ABC
Ontem reproduzimos uma foto da roda dos enjeitados, hoje a informação: em 2 de julho de 1825 foi instalada a roda dos enjeitados numa das janelas do andar térreo do velho casarão da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, que recebeu a primeira criança dois dias depois.
Cf. Sandra Colucci, “Entre verrinas e ditirambos” (Scortecci, 2024), livro ontem apresentado aqui em Memória.
Em seu livro, a autora registra vários tópicos que interessam à construção da memória do Grande ABC.
Geograficamente, entre 1824 e 1825, na antiga Chácara Nossa Senhora da Glória, localizada além da Chácara dos Ingleses, ao sul da Sé e no caminho do Ipiranga (que era limitada pelos rios Tamanduateí, Cambuci e Ipiranga), nas proximidades do antigo Caminho do Mar, ligando São Paulo a Santos, hoje Rua da Glória, o governo provincial instalou o Seminário da Glória para abrigar meninos órfãos.
O seminário se confundia com o bairro antigo dos Meninos, que teve também o “Meninos” novo, atual Rudge Ramos, em São Bernardo.
IMIGRAÇÃO – Parte da chácara da Glória foi comprada por três contos de réis para a instalação do hospital da Santa Casa.
Após a transferência do seminário para outro local, o prédio ficou em ruínas. Reformado mais tarde, o edifício abrigou a Casa da Pólvora e serviu como quartel para tropas militares. Em 1877, a chácara foi transformada em núcleo colonial, o que deu origem ao bairro da Glória.
Foram quatro núcleos coloniais iniciais no subúrbio de São Paulo, este da Gloria, o de Santana, mais os núcleos São Bernardo e São Caetano, os quatro de 1877 destinados à mão de obra imigrante para abastecer a capital dos chamados gêneros básicos da lavoura, além de carvão e lenha.
ENGENHARIA – Na primeira metade do século XIX, obras importantes foram projetadas pelo engenheiro português Daniel Pedro Muller, com a patente de marechal. Entre elas, a sede do hospital da Santa Casa, inaugurada em 1840.
O mesmo engenheiro Daniel Pedro Muller foi o autor, no início do século XX, daquele que temos chamado de o primeiro loteamento urbano do Grande ABC, a sede da Vila de São Bernardo, com a abertura da atual Rua Marechal Deodoro, suas transversais e dois largos, o da Matriz (rebatizado com o nome do prefeito Tito Costa) e Praça Lauro Gomes, onde ficava o Largo do Governo e o casarão do Alferes Bonilha.
EXPANSÃO URBANA – Sandra Colucci ocupa-se em larga escala da mulher no trabalho. No período estudado (1925-1940) registrou-se a vinda de muitas moças do interior que já trabalhavam e buscavam melhores condições na Capital.
Sandra cita o exemplo de Luiza Zaparolli e suas irmãs, que aprenderam a trabalhar em fábrica têxtil local e que, em São Bernardo, se empregaram na fábrica Italo Setti.
BAIRROS PAULISTANOS – Sandra estuda em detalhes uma pesquisa de 1938 envolvendo 27 mil mulheres empregadas em 143 fábricas distribuídas em 22 bairros.
Eram os bairros operários de São Paulo, hoje todos centenários, formando o centro expandido paulistano: Brás, Belenzinho, Pary, Penha, Tatuapé, Mooca, Cambuci, Ipiranga, Vila Prudente, Sé, Saúde, Vila Mariana, Bela Vista, Ibirapuera, Consolação, Perdizes, Lapa, Santa Ifigênia, Bom Retiro, Santa Cecilia, Santana, Casa Verde.
Esta listagem de um livro voltado à maternagem inspira “Memória” a pensar nos bairros centenários das Setecidades, geralmente mais novos que os de São Paulo, e que estão aí para serem estudados: quem foram os seus operários, as suas operárias, os seus menores atendidos por iniciativas como a Casa do Menor Jornaleiro, dentro da política propagandística do Estado Novo de Getúlio Vargas.
AMANHÃ EM MEMÓRIA
Um ensaio em vídeo experimental dos bairros operários do Grande ABC.
Crédito das fotos 1, 2 e 3 – Da obra de Sandra Colucci (pesquisa e divulgação)
RETRATOS.
1 - Primeira metade do século XX: crianças à porta de uma latrina
2 - Charge de José Cândido de Albuquerque Mello Mattos, autor do primeiro Código de Menores em 1927 e o primeiro juiz de menores do Brasil
3 - Campanha de leite na década de 1930
DIÁRIO HÁ MEIO SÉCULO
Quarta-feira, 16 de julho de 1975 – Edição 2799
MANCHETE – Gráfico da morte convence industriais.
Eram os terríveis acidentes do trabalho alcançando altos índices no Grande ABC por conta do pico no trabalho industrial.
NAS ONDAS DO RÁDIO
Canta Itália
As canções que ficaram; temas marcantes em quadros que fazem lembrar a velha Itália e sua gente radicada na região.
No momento Itália, o registro de dois nascimentos, Italo Stefanini, em 1852, em Parma; e Angelo Linguanotto, em 1877, em Treviso. Os dois fizeram história em São Bernardo.
Produção e apresentação: Marquitho Riotto. Hoje, às 20h, com reapresentação no sábado, às 23h. Rádio ABC AM (1570) e FM 81.9, em cadeia com a Rádio Web Spaghetti, de São Bernardo.
EM 16 DE AGOSTO DE...
1905 – Sob intensa publicidade, anunciava-se a primeira ascensão do aeronauta português Antonio Bernardes, o Capitão Ferramenta, pelo balão ‘O Nacional’ no Velódromo Paulistano.
Era um domingo. Do alto, o capitão lançaria charutos, bilhetes postais com vistas de São Paulo, pequenos balões com rede e barquinha e brindes com reclames comerciais.
Vexame: “O Nacional” não subiu e o capitão Ferramenta recebeu sonora vaia.
1940 - Em ofício protocolado na Prefeitura, seis loteadores de Santo André reivindicavam a adoção de uma política municipal que facilitasse a construção de casas populares na cidade.
Assinam: Camilo Peduti (loteador de Camilópolis), Cincinato Reichert (Vila Metalúrgica), Baldino de Siqueira (Vila Helena), C. O. W. Klaussner (Valparaíso), J. Dalla Monica (Vila Gilda) e Mario Guindani (Utinga).
NOTA DA MEMÓRIA – É um documento bonito, com carimbos e assinaturas de loteadores urbanos que estão entre os pioneiros de Santo André.
Crescia a indústria. Aumentava a população. A cidade discutia formas de um planejamento que evitasse problemas futuros – problemas que não seriam evitados e que resultariam na formação de cinturões de favelas.
MUNICÍPIOS BRASILEIROS
No Estado de São Paulo hoje é o aniversário de Jaboticabal. Elevado a município em 1867, quando se separa de Araraquara.
Na Bahia, Brajolândia, Cafarnaum, Canarana, Irajuba, Itaju do Colônia, Lajedão, Maiquinique e Morpará.
No Rio Grande do Norte, Caiçara do Norte, Ouro Branco, São Miguel do Gostoso e Tenente Laurentino Cruz.
E mais: Arcos e Mariana (MG), Bocaina do Sul (SC), Bom Jesus (RS), Imperatriz (MA), Ipiranga de Goiás, Morrinhos e Rialma (GO), Juarez Távora (PB), Manacapuru (AM), Miranda (MS) e São Pedro do Iguaçu (PR).
HOJE
Dia do Comerciante (cf. lei federal de 1953)
Nossa Senhora do Carmo
16 de julho
Devoção iniciada no século XII, no Monte Carmelo, Palestina.
Padroeira da segunda paróquia de Santo André e sede da nossa Diocese
Ilustração – Vatican News
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