Após um mês da repercussão do caso e 27 boletins de ocorrência registrados, os pais ainda aguardam respostas
Em 8 de agosto, vieram à tona denúncias de maus-tratos a crianças na creche particular Interlúdio Escola de Educação Infantil, localizada no bairro Jardim Santo Inácio, em São Bernardo. Ao todo, 27 BOs (Boletins de Ocorrência) foram registrados, mas, quase um mês depois, os pais dos alunos ainda reclamam pela falta de informações sobre o caso e cobram respostas da Justiça.
Tudo começou pelo olhar atento e empático da cozinheira Rosemeire de Souza Carvalho, 49 anos, funcionária da escola, que observou, durante algumas semanas, os bebês serem tratados com violência, física e psicológica, e alimentados com brutalidade, por professoras e estagiárias. “Vi crianças serem jogadas contra a parede, empurradas e até puxadas pelo pé. Quando fui reclamar, disseram que era assim e não fizeram nada. Fiquei muito mal com isso”, lembra a cozinheira.
Rosemeire chegou a pedir demissão, mas decidiu ficar para proteger as crianças. A ex-funcionária, demitida por justa causa após revelar os casos, conta que tentava ficar por perto dos alunos, mas era retirada e encaminhada à cozinha, seu local de trabalho. Foi quando tomou a decisão de filmar com seu próprio celular. Já na primeira gravação, em 7 de agosto, registrou as agressões, filmagem divulgada na internet no dia seguinte.
A profissional, então, entrou em contato com a mãe de um dos bebês que mais aparecem sendo agredidos no vídeo, o filho de um ano e cinco meses da executiva comercial Patricia de Santi Salvador, 37. “Ultimamente, tinha percebido um comportamento incomum nele e lesão nos dentes. Havia questionado a escola e me disseram que foi queda durante a escovação”, afirma Patricia.
Quando recebeu as imagens de seu filho, no mesmo dia da gravação, foi à porta da creche com a polícia. A mãe registrou o BO no dia 8 e, conforme a informação alcançou outros pais, eles foram associando a denúncia a comportamentos e lesões que vinham percebendo nos filhos.
Foi o caso da analista financeira Thaís Alessi, 29, e do programador Daniel Martussi, 31, pais de um menino de um ano e oito meses. O casal escolheu a escola, com mensalidade em torno de R$ 1.200, para ter a tranquilidade de ter o filho bem cuidado enquanto trabalhavam, mas se sentiram culpados e impotentes ao perceber que ocorria o contrário disso. O mínimo que esperam agora é a punição dos culpados.
“Ele ainda não fala, só que notamos mudanças de comportamento, principalmente duas semanas antes de explodir o caso. Ele começou a empurrar, chorar e chutar durante o banho, além de não se alimentar e estar sempre recusando a comida. Toda semana ficava doente”, conta Martussi.
O filho de um ano e sete meses do casal de empresários, Vitoria Rabelo, 24, e Vinicius Vitalino da Silva, 27, chegou a ficar com marcas no rosto. “Um dia ele chegou com o olho roxo e inchado. Descobrimos que depois que reclamamos ele foi punido e isolado das outras crianças”, relata o pai.
Após as denúncias, a escola encerrou as atividades. O Diário não conseguiu localizar os responsáveis pela instituição.
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INVESTIGAÇÃO
De acordo com a SSP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo), as denúncias de maus-tratos são apuradas por meio inquérito policial instaurado pelo 3º Distrito Policial de São Bernardo. “Após decisão judicial, as investigações correm sob segredo de Justiça, a fim de resguardar as crianças”, informa a pasta por nota.
A Pasta destacou que, até o momento, foi constatada a prática de condutas inadequadas por parte de funcionárias e também de sócias da instituição, as quais foram indiciadas no curso das investigações. “Diligências estão em andamento, incluindo a análise de laudos e coleta de depoimentos para a conclusão dos inquéritos.”
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